São Paulo: o início da cidade, as contradições da urbanização mal planejada

domingo, 3 de fevereiro de 2008

A educação que vale ouro

Na onda de investida contra o patrimônio público iniciada mais acentuadamente na Era Collor, a educação, embora muitíssimo sucateada com profissionais mal pagos em jornadas insanas, ainda continua intacta se comparada a outras esferas públicas que foram devidamente abocanhadas pelo capital privado, a exemplo das telecomunicações e de boa parte da saúde (AMAS) e da cultura (ASSAOC), além das OSIPS.
No entanto, há cerca de dois, três anos, no máximo, teve início um acirrada campanha pela privatização da educação tendo por base a humilhação cotidiana dos profissionais, transformados em figuras caricatas, anti-profissionais, vagabundos que nunca trabalham.
A imprensa, cumprindo seu papel leviano, divulga matérias com apenas um lado. O outro lado... recebe umas poucas linhas para acobertar a falácia do jornalismo que se pratica no país. Uma pena. Uma pena sem tinta. Fica-se com a frase de Balzac: "Se a imprensa não existisse seria preciso não inventá-la". Ilusões perdidas, nunca reencontradas.
As matérias, aspirantes a voz oficial do governo, mencionam o quanto as escolas possuem de equipamento, salas de informática, sala de leitura. Livros, doações, bolsas assistenciais, mochilas, tênis, meias, leite. Mas bem pouco é veiculado sobre o salário dos profissionais.Há cinco anos lecionando na Prefeitura de São Paulo, o salário com jornada máxima de 36h/aula na escola e 4h/aula em casa, preparando atividade, lendo, informando-se, formando-se, corresponde a R$ 1350,00. Há os extras que não são convertidos para fins de aposentadoria e que cada vez mais fazem diferença. E o tempo para cursos... para descanso, de fato... não são encarados como parte do trabalho.
Outra particularidade, esta sim, muito divulgada, são os programas das ONG´s que atraem "jovens carentes para programas de iniciação à música, ao canto, à dança". Se as ONG´s conseguem, por que o professor público não consegue fazer este trabalho tão importante? Neste tom são escritas as matérias ou mesmo são transcritos os depoimentos dos honoráveis senhores e senhoras que amam a educação.
Trata-se de uma armadilha, pois, estes senhores e senhoras selecionam em meio a 2000 jovens, dois ou três que têm interesse e demonstram esforço para enfrentar distâncias hercúleas até chegar aos locais onde os cursos/aulas serão ministrados. Aí, figuram como se houvesse um milagre diante do que é a escola pública.
Parece aos olhos do público em geral que a iniciativa privada é a única que consegue estabelecer um padrão de ensino. É lógico que não consta o fato da seleção já retirar os não convencionais. Enquanto na escola pública alunos violentados, tratados como cachorro, à mercê de doenças, e do descaso de relações instáveis em que bebês, crinças e jovens são acuados como inimigos da futura nova relação entre homens e mulheres destemperados, sem emprego, sem horário e muitas vezes sem responsabilidade alguma. Há relatos de alunos com sarna.
As aulas com milhares de interrupções: leite, dosador de leite e tantos outros apetrechos.

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